Me chamo Luma, e com meus 20 anos participo dessa geração nativa digital chamada Z. Sou estudante de Biblioteconomia na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) desde 2018, com formação em Técnico de Biblioteconomia, em 2017, pelo Centro Paula Souza, e atualmente atuo como estagiária de um escritório de advocacia em São Paulo. Além disso, eu também sou ratinha de biblioteca desde que me conheço por gente e pratico bordado livre há pouco mais de um ano.
Costumo dizer que não escolhi a Biblioteconomia, mas fui escolhida por ela, e não poderia haver melhor escolha. Durante o ensino médio, incontáveis foram as vezes que bati à porta da sala de leitura, disfarçada de biblioteca, sob a responsabilidade de um professor de artes readaptado, disfarçado de bibliotecário, para fugir, por alguns minutos, da sala de aula, em caos, que o Estado de São Paulo me oferecia. Dentro da biblioteca, mais do que os livros, eu tinha uma voz amiga. Esse professor se tornou mais do que um profissional readaptado, ele foi, essencialmente, um mediador.
Os livros eram minha paixão, eu os devorava. Mas, a presença de um mediador interessado em discutir e, principalmente, ouvir minha experiência, foi a diferença necessária para mudar minha perspectiva de biblioteca como um lugar fechado e dedicado ao silêncio. Logo, os livros já não eram o meu único objetivo na biblioteca, mas sim as discussões, descobertas e amizades que fiz naquele espaço.
Depois de formar no Ensino Médio, me matriculei no curso Técnico de Biblioteconomia, oferecido pela Escola Técnica do Parque da Juventude, em 2017, justamente por acreditar que a biblioteca fazia parte da minha vida muito mais do que eu poderia imaginar. Assim, eu, que estive sempre cercada por livros desde minha primeira memória – cortesia de minha mãe, nordestina formada em Magistério, e grande incentivadora do ato de conhecer –, imaginei que um curso de um ano acerca do tão frequentado espaço da biblioteca seria, no mínimo, interessante a minha formação.
E, definitivamente, foi. No ano de 2017, descobri um universo de possibilidades em uma área da qual nunca havia ouvido falar, afinal: precisa de formação para ser bibliotecário? Sim, além de paixão, é preciso formação! A biblioteca, como um espaço de informação e cultura, me possibilitou o encontro: um encontro comigo mesma, com meus pares e com o mundo nos cerca. Eu, por sorte, tive uma ótima experiência na sala de leitura da minha escola, entretanto entendo, hoje, que esta oportunidade está longe de ser a realidade para a maior parcela dos alunos do ensino público. Existe um longo caminho a ser trilhado pela Biblioteconomia dentro e fora das escolas do país. Após, em 2018 ingressei na graduação em Biblioteconomia na ECA-USP, e concomitante a este período, realizei um sonho antigo de entrar para a equipe de uma biblioteca do Programa Fábricas de Cultura.

As Fábricas são um projeto do Governo do Estado de São Paulo que, através de uma pesquisa realizada em 2006, identificou bairros com grandes índices de vulnerabilidade social entre crianças e jovens. O projeto é uma política pública que tenta responder essa demanda através do acesso e apropriação desses centros culturais pela população mais jovem, onde são ofertados, de forma gratuita, cursos e atividades de cunho artístico-cultural e contam também com uma biblioteca em cada unidade.
Atualmente, as Fábricas de Cultura estão situadas em regiões periféricas da cidade de São Paulo, exceto por uma situada no centro-oeste do município de Diadema. No total são 11 unidades com sua administração dividida entre duas Organizações Sociais.
Por volta de 2013, o projeto chegou ao bairro do Jaçanã, na região norte da cidade de São Paulo, onde nasci e cresci. Eu não frequentava o projeto com frequência, mas conhecia sua proposta entre uma conversa e outra. Só em 2017, quando conheci a Biblioteconomia no Técnico, que desabrochou em mim essa vontade absurda de fazer parte daquele núcleo. Em 2018, com a aprovação na faculdade, veio também a oportunidade de trabalhar em uma Fábrica: a do bairro da Brasilândia. E fui, com 18 anos e todo um curso universitário pela frente.
Posso dizer que trabalhar na Fábrica foi uma das experiências mais gratificantes e exaustivas que já vivi nesse pouco tempo de vida. Lá existiam dias incríveis, de partilha de experiências, aprendizados e escuta, mas também dias de exaustão e de sentir que faltavam braços para segurar a barra. Trabalhar em um espaço de informação e cultura numa periferia, tendo crescido em uma realidade muito próxima a ela, é um trabalho paulatino e que demanda responsabilidades bastante complexas. Por isso, fiquei um ano no projeto, depois tive que dar um passo atrás e entender que aquele não era o momento para essa empreitada.
Entretanto, esse tempo na Fábrica trouxe inúmeros frutos e um deles, talvez o maior, foi a descoberta do bordado livre e das práticas manuais. Cresci com uma mãe professora não praticante e com uma habilidade incrível com materiais de papelaria. Com ela, desde muito nova, aprendi a ler e a usar a mãos para criar. Assim, para mim, descobrir a paixão por um hobbie têxtil não foi grande surpresa: o fazer manual sempre esteve presente a minha volta.
Em setembro de 2018, acompanhei na biblioteca uma oficina de bordado livre e literatura de mulheres negras, em que a oficineira ensinou um ponto básico de bordado para a escrita de uma frase. Decidi me juntar às crianças e aprender também. Naquele dia bordei a frase de Carolina Maria de Jesus: “O mundo modifica para os que reagem”. E foi reagindo que meu mundo mudou.
O bordado, de certa forma, me ajuda a desacelerar. Comecei por curiosidade e, por acaso, percebi que minhas percepções auditivas se tornavam mais aguçadas quando tinha o que manusear. Seja ouvindo um podcast, uma aula ou uma palestra na faculdade, sei que consigo me concentrar com mais facilidade em monólogos quando bordo. Hoje o bordado livre faz parte da minha rotina. Possuo um perfil online onde recebo encomendas, mas que no fim respondem muito mais a uma demanda particular de criar, do que necessariamente o valor financeiro empregado.
Ainda não tenho entendi, de forma concreta, como esses dois atores, a Biblioteconomia e o bordado, estão relacionados: é meu desafio pessoal investigá-los. Fato é que constituem grande parte do que sou e das coisas que acredito, e, portanto sempre figuram como meus objetos de estudo. Foi, através da biblioteca, da descoberta da Biblioteconomia, e da abertura para construir conhecimentos dentro desse espaço de informação e cultura, que descobri infinitas possibilidades.
Existe um lema, usado pelos iluministas no século XVII, do qual gosto muito: “sapere aude”, recuperado da Antiguidade Grega tratava-se de um convite ao conhecimento, “ouse saber”, em tradução livre. Para mim, esta é a razão de ser da biblioteca. O movimento que esse lema traz é constante, é um convite diário ao desafio de saber. Escolhi a Biblioteconomia, ou fui escolhida por ela, por acreditar na ousadia do conhecimento e no desafio da busca. Acredito que a biblioteca possa ser terreno fértil para esses encontros entre sujeitos e conhecimentos, com a capacidade de produzir ampliações e descobertas de universos diversos e desafiadores.
Finalizo, então, querendo dizer que precisamos cuidar de nossas bibliotecas, de nossas políticas públicas e de nosso patrimônio, seja material ou simbólico. São neles que residem nosso passado e nosso futuro, e também, através deles que podemos enxergar possibilidades e mudar a perspectiva de observação para reagir – e resistir -, como propôs Carolina.
Muchas gracias. ?Como puedo iniciar sesion?
Ótimo trabalho!
Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
que tinha o que tanto procurava.
Gostei muito.
Meu muito obrigado!!!
The final maturation trigger should be changed from HCG to a GnRH agonist if possible cialis no prescription
HGH 90 IU is a synthetic growth hormone that is given to those who are low in growth hormone buy cialis online us